Muito bem aspira,
você está vagando indefinidamente no espaço e tempo, suspirando ao vento seus
desejos mais blasfemos, quando molhado(a) ao ler aquele livro (50 tons) a
fantasiar, se permite enfim buscar a tudo isso na internet. Vejamos - olhando
pra mim mesmo, e minha completa ignorância sobre termos ou conceitos desse
mundo no meu início, você se pôs a pesquisar indefinidamente no Google: “mulher
apanha, homem apanha, pés, mulher apanha de homem, homem apanha de mulher,
sadismo, masoquismo, homem é pisado, escravidão...”, até que em meio a
notícias sobre agressões de verdade, programas
freak , história da escravidão no Brasil e fóruns aleatórios... tâdaaaaam – você veio parar nesse blog.
Não estou te chamando de tonto, apenas expondo o que uma criança de 13 anos
(eu) fez quando começou procurar e ler sobre isso... (se você for uma criançade 13 anos clique aqui).
Perpassando
os limites da lei, e até do bom senso por alguns instantes, essa criança em
potencial se depara com vários termos e palavras no mínimo estranhas: BDSM,
trample, sub, Dom, Domme, switcher, sw, CBT, Bottom, D/s, Liturgia (isso não é
na igreja? O.o)... e por aí vai. Mas
calma, prometo que vou fazer o possível pra te ajudar...
A primeira
vista, quero te dizer, estranho, que você não é anormal. A maior rede social
sobre fetichismo e BDSM do mundo (fetlife),
tem mais de 3 milhões de usuários cadastrados. Julgando que não existe apenas
essa rede, e que muitos indivíduos não conhecem ou não assumem suas inclinações
a estes gostos, podemos estimar um número muito maior! (Entre praticantes
conscientes ou não)
A primeira
coisa que gostaria de dizer, é que caso sinta prazer sexual em bater, ou
apanhar de alguém, você já deve saber sobre sadismo e masoquismo, e quer você
queira, quer não, você possui tendência para um dos dois! O mais correto, seria
dizer que somos sadomasoquistas.
“ O que?? Eu?? Eu só gosto de bater, de mandar,
controlar!! Como assim, eu acho tão feio tão aquelas roupas de couro, aquelas coisas estranhas, essas coisas não são o que gosto não."
Calma! Talvez
esteja sendo difícil pra você, mas algo que pode te ajudar é primeiro se desfazer
de todo estereótipo que você tem sobre isso! Bom, existem roupas de couro,
vestimentas, práticas e festas exóticas... mas a verdade é que não é só isso!
Esse mundo é tão plural e mágico quanto nossa própria complexidade! Ao que
parece pra mim, você ainda está um pouco assustado(a) com tudo isso, mas aos
poucos, se quiser, pode conhecer algumas coisas interessantes.
Em primeiro
lugar, quando falamos em práticas sadomasoquistas ou fetichistas saudáveis, que
fique claro: tudo deve ser OBRIGATORIAMENTE CONSENSUAL.
Assumindo que
se tratam de desejos sadomasoquistas, ao mesmo tempo, alguém pode estar se
perguntando: sadomasoquismo? O que é isso?
Grosseiramente,
podemos dizer que sadomasoquismo são relações de caráter sexual ou erótico na
qual tendências sádicas interagem com tendências masoquistas. Em outras
palavras – é alguma relação sexual ou erótica em que alguém causa dor e o outro
a sente, seja esta dor física ou psicológica, se traduzindo na prática em uso
de cintos e chicotes para bater no parceiro, ou até mesmo humilhações verbais
ou de outro tipo. O sádico é aquele que
causa dor, que humilha, que domina. O masoquista é o indivíduo que se submete a
dor causada pelo parceiro, física moral ou psicológica. Ambos sentem prazer
nestas circunstâncias.
Até aqui,
temos que o sádico domina, e o masoquista apanha e é dominado. Embora existam
nuances mais sutis e diferenciações entre dominação e submissão no contexto
BDSM, acredito que para início, se possa conceituar como colocado assim,
justamente pra não serem geradas maiores dúvidas. Aos visitantes mais
experientes, peço compreensão, pois até chegarmos às outras definições,
fiquemos com estas idéias incompletas, por agora.
“ Peraí, mas isso aí não é doença??? Eu bater no
meu namorado?? Isso é coisa de doente!! Será que eu sou doente???”
Calma... você
realmente tem tais desejos? Espero do fundo do coração não estar induzindo
ninguém à coisa alguma! Mas caso você tenha estes desejos, e já os tenha tido
antes mesmo de visualizar essas páginas, acredito que é possível a existência
de tais tendências... Mas veja, sobre se é doença ou não, depende...
A definição
de doença nesses contextos pode variar bastante, tanto na psicologia como na
psiquiatria... Mas, em resumo, pra que o sadomasoquismo, ao invés de fantasia,
se transforme em uma doença, são necessárias duas coisas:
1 - o prazer
só advir das práticas sadomasoquistas.
2 - o fato do
prazer advir apenas das práticas sadomasoquistas traz um prejuízo
significativo na vida da pessoa.
Por exemplo,
se pensarmos em um sádico e seu único prazer ser desferir dor no parceiro, para
assim haver algum tipo de excitação, e este sádico for casado com uma
masoquista sendo os dois felizes e satisfeitos: não há nenhum tipo de
sofrimento, para ambos!!! Ou seja, mesmo o sadomasoquismo sendo a única fonte
de prazer dos indivíduos (o que por muito tempo foi considerado doença), os
dois levam suas vidas normais e não sofrem, não possuem nenhum tipo de
sofrimento psíquico. Se utilizarem-se de técnicas para não haverem lesões ou
complicações físicas das práticas realizadas, os dois serão considerados
saudáveis mental e fisicamente.
Agora, imaginem este mesmo sádico, que finalmente
casou com uma mulher, mas que no entanto, não aprove nem se submeta a tais
práticas, e este sádico, infelizmente não escolheu sê-lo, e assim, não consegue
nenhum tipo de excitação com outras coisas... Além disso, sua mulher o deixou,
e ele enfrenta sérias dificuldades por ter sua vida toda voltada para práticas
e relacionamentos sadomasquistas, presenciando problemas em seu trabalho, vida
cotidiana e família. De tanto que seu desejo o assombra, ele acaba sendo sádico
em seu trabalho, família e todas relações sociais que estabelece, de maneira
acentuada, sem consensualidade, para além dos limites puramente sexuais... Bom,
senhores, estamos aí diante de uma situação em que de fato existe a doença. Em
casos extremos, a pessoa acaba nem tendo prazer ou excitação sexual, apenas
excitação em causar ou sentir dor...
Embora não
tão comuns tais condições, pessoas que possuem parafilias (sadomasoquismo,
fetiche ou outros desvios como doenças) também podem se beneficiar do universo BDSM,
justamente por encontrar um lugar para tais pulsões. Nem sempre tratam-se de
pessoas perigosas ou algo que o valha, muito pelo contrário, se seguirem os aspectos
recomendados para um bom relacionamento envoltos na cultura BDSM, são pessoas
que possivelmente poderiam desenvolver relações saudáveis, que por ora, estando
envoltas em sadomasoquismo, chamaremos de relações SM. Obviamente, nestes casos
mais complicados, nada substitui tratamentos, que inclusive, incluem nas
estratégias, o completo afastamento do indivíduo de qualquer contexto
relacionado a seus desejos. Mas aí é outro assunto.
Nem tanto pra
la, nem tanto pra cá... a partir daqui percebemos que todo fetiche ou desejo
deve ser de acordo com nossa realidade e independente dos desafios impostos por
normas sociais ou estereótipos. É uma linha tênue entre o dito normal e
patológico, entre o doentio e saudável, entre a saciação e o abismo. A
avaliação de tudo isso é pessoal, e aqui não me responsabilizo pela compreensão
errônea do que esta por vir. Ademais, aqui encerro a primeira parte desta
introdução, com muito bla bla bla e
pouca ação, justamente pra sabermos e avaliarmos: onde estamos pisando?
E quanto a
você marujo, nos próximos posts vou enfim te contar o que é esse tal de BDSM,
esses palavrões todos e pra que eles servem. Até la, pense em ti, pense nisso,
e pense em quantos mil tons a mais do que essas baboseiras mainstreams você pode aguentar.
Aguarde.