8 de agosto de 2014

Introdução - Parte 1


 
   Muito bem aspira, você está vagando indefinidamente no espaço e tempo, suspirando ao vento seus desejos mais blasfemos, quando molhado(a) ao ler aquele livro (50 tons) a fantasiar, se permite enfim buscar a tudo isso na internet. Vejamos - olhando pra mim mesmo, e minha completa ignorância sobre termos ou conceitos desse mundo no meu início, você se pôs a pesquisar indefinidamente no Google: “mulher apanha, homem apanha, pés, mulher apanha de homem, homem apanha de mulher, sadismo, masoquismo, homem é pisado, escravidão...”, até que em meio a notícias sobre agressões de verdade, programas freak , história da escravidão no Brasil e fóruns aleatórios... tâdaaaaam – você veio parar nesse blog. Não estou te chamando de tonto, apenas expondo o que uma criança de 13 anos (eu) fez quando começou procurar e ler sobre isso... (se você for uma criançade 13 anos clique aqui).
   Perpassando os limites da lei, e até do bom senso por alguns instantes, essa criança em potencial se depara com vários termos e palavras no mínimo estranhas: BDSM, trample, sub, Dom, Domme, switcher, sw, CBT, Bottom, D/s, Liturgia (isso não é na igreja? O.o)... e por aí vai.  Mas calma, prometo que vou fazer o possível pra te ajudar...
   A primeira vista, quero te dizer, estranho, que você não é anormal. A maior rede social sobre fetichismo e BDSM do mundo (fetlife), tem mais de 3 milhões de usuários cadastrados. Julgando que não existe apenas essa rede, e que muitos indivíduos não conhecem ou não assumem suas inclinações a estes gostos, podemos estimar um número muito maior! (Entre praticantes conscientes ou não)
  A primeira coisa que gostaria de dizer, é que caso sinta prazer sexual em bater, ou apanhar de alguém, você já deve saber sobre sadismo e masoquismo, e quer você queira, quer não, você possui tendência para um dos dois! O mais correto, seria dizer que somos sadomasoquistas.

“ O que?? Eu?? Eu só gosto de bater, de mandar, controlar!! Como assim, eu acho tão feio tão aquelas roupas de couro, aquelas coisas estranhas, essas coisas não são o que gosto não."

   Calma! Talvez esteja sendo difícil pra você, mas algo que pode te ajudar é primeiro se desfazer de todo estereótipo que você tem sobre isso! Bom, existem roupas de couro, vestimentas, práticas e festas exóticas... mas a verdade é que não é só isso! Esse mundo é tão plural e mágico quanto nossa própria complexidade! Ao que parece pra mim, você ainda está um pouco assustado(a) com tudo isso, mas aos poucos, se quiser, pode conhecer algumas coisas interessantes.
   Em primeiro lugar, quando falamos em práticas sadomasoquistas ou fetichistas saudáveis, que fique claro: tudo deve ser OBRIGATORIAMENTE CONSENSUAL.
   Assumindo que se tratam de desejos sadomasoquistas, ao mesmo tempo, alguém pode estar se perguntando: sadomasoquismo? O que é isso?
   Grosseiramente, podemos dizer que sadomasoquismo são relações de caráter sexual ou erótico na qual tendências sádicas interagem com tendências masoquistas. Em outras palavras – é alguma relação sexual ou erótica em que alguém causa dor e o outro a sente, seja esta dor física ou psicológica, se traduzindo na prática em uso de cintos e chicotes para bater no parceiro, ou até mesmo humilhações verbais ou de outro tipo.  O sádico é aquele que causa dor, que humilha, que domina. O masoquista é o indivíduo que se submete a dor causada pelo parceiro, física moral ou psicológica. Ambos sentem prazer nestas circunstâncias.
   Até aqui, temos que o sádico domina, e o masoquista apanha e é dominado. Embora existam nuances mais sutis e diferenciações entre dominação e submissão no contexto BDSM, acredito que para início, se possa conceituar como colocado assim, justamente pra não serem geradas maiores dúvidas. Aos visitantes mais experientes, peço compreensão, pois até chegarmos às outras definições, fiquemos com estas idéias incompletas, por agora.

“ Peraí, mas isso aí não é doença??? Eu bater no meu namorado?? Isso é coisa de doente!! Será que eu sou doente???”

   Calma... você realmente tem tais desejos? Espero do fundo do coração não estar induzindo ninguém à coisa alguma! Mas caso você tenha estes desejos, e já os tenha tido antes mesmo de visualizar essas páginas, acredito que é possível a existência de tais tendências... Mas veja, sobre se é doença ou não, depende...
   A definição de doença nesses contextos pode variar bastante, tanto na psicologia como na psiquiatria...       Mas, em resumo, pra que o sadomasoquismo, ao invés de fantasia, se transforme em uma doença, são necessárias duas coisas:
1 - o prazer só advir das práticas sadomasoquistas.
2 - o fato do prazer advir apenas das práticas sadomasoquistas traz um prejuízo significativo na vida da pessoa.
   Por exemplo, se pensarmos em um sádico e seu único prazer ser desferir dor no parceiro, para assim haver algum tipo de excitação, e este sádico for casado com uma masoquista sendo os dois felizes e satisfeitos: não há nenhum tipo de sofrimento, para ambos!!! Ou seja, mesmo o sadomasoquismo sendo a única fonte de prazer dos indivíduos (o que por muito tempo foi considerado doença), os dois levam suas vidas normais e não sofrem, não possuem nenhum tipo de sofrimento psíquico. Se utilizarem-se de técnicas para não haverem lesões ou complicações físicas das práticas realizadas, os dois serão considerados saudáveis mental e fisicamente.
   Agora,  imaginem este mesmo sádico, que finalmente casou com uma mulher, mas que no entanto, não aprove nem se submeta a tais práticas, e este sádico, infelizmente não escolheu sê-lo, e assim, não consegue nenhum tipo de excitação com outras coisas... Além disso, sua mulher o deixou, e ele enfrenta sérias dificuldades por ter sua vida toda voltada para práticas e relacionamentos sadomasquistas, presenciando problemas em seu trabalho, vida cotidiana e família. De tanto que seu desejo o assombra, ele acaba sendo sádico em seu trabalho, família e todas relações sociais que estabelece, de maneira acentuada, sem consensualidade, para além dos limites puramente sexuais... Bom, senhores, estamos aí diante de uma situação em que de fato existe a doença. Em casos extremos, a pessoa acaba nem tendo prazer ou excitação sexual, apenas excitação em causar ou sentir dor...
   Embora não tão comuns tais condições, pessoas que possuem parafilias (sadomasoquismo, fetiche ou outros desvios como doenças)  também podem se beneficiar do universo BDSM, justamente por encontrar um lugar para tais pulsões. Nem sempre tratam-se de pessoas perigosas ou algo que o valha, muito pelo contrário, se seguirem os aspectos recomendados para um bom relacionamento envoltos na cultura BDSM, são pessoas que possivelmente poderiam desenvolver relações saudáveis, que por ora, estando envoltas em sadomasoquismo, chamaremos de relações SM. Obviamente, nestes casos mais complicados, nada substitui tratamentos, que inclusive, incluem nas estratégias, o completo afastamento do indivíduo de qualquer contexto relacionado a seus desejos. Mas aí é outro assunto.
   Nem tanto pra la, nem tanto pra cá... a partir daqui percebemos que todo fetiche ou desejo deve ser de acordo com nossa realidade e independente dos desafios impostos por normas sociais ou estereótipos. É uma linha tênue entre o dito normal e patológico, entre o doentio e saudável, entre a saciação e o abismo. A avaliação de tudo isso é pessoal, e aqui não me responsabilizo pela compreensão errônea do que esta por vir. Ademais, aqui encerro a primeira parte desta introdução, com muito bla bla bla e pouca ação, justamente pra sabermos e avaliarmos: onde estamos pisando?
   E quanto a você marujo, nos próximos posts vou enfim te contar o que é esse tal de BDSM, esses palavrões todos e pra que eles servem. Até la, pense em ti, pense nisso, e pense em quantos mil tons a mais do que essas baboseiras mainstreams você pode aguentar.

Aguarde.